9.05.2011

8.24.2011

o palco do tempo

Estranho-me com a volatilidade da tinta desta caneta, da facilidade com que escorre e traça as linhas dos nossos dias e noites. Reencontro nas palavras a magia que me escapa, que sinto não me pertencer. Troco os indolores sais de prata pelo odor térreo das borras do café, que não ousam mais que prever o passado, que descansam preguiçosamente no tempo.

Arrisco a espreitar só mais uma vez por essa janela, para deixar entrar a luz, a magia da espera, do pensar, até ao derradeiro 'clack'.




"O Fernando Pessoa sente as coisas mas não se mexe, nem mesmo por dentro."
- Alberto Caeiro

8.05.2011

o teu mundo no meu


Hoje, como em tantos dias iguais a hoje, no curto trajecto que separa a estação do eléctrico ao local de trabalho, cruzei-me com um ciclista. Tão invulgar como a imagem que aparenta, é a inevitabilidade do nosso encontro que parece ir além dos involuntários e aleatórios atrasos matinais. Mas ao virar da curva, eis que sobe com destreza esta ladeira inclinada, que percorro em sentido inverso, mas que a natureza do meu destino a torna tão ou mais penosa como a do meu opositor.
Esta imagem, de barbas grizalhas e óculos espelhados, tornou-se familiar quase ao ponto de sorrirmos um para o outro, quando nos cruzamos. Porque sei que ao virar da esquina, ali estará subindo o ciclista. Por ser tão natural, e porque para mim apenas existe apenas neste lugar e espaço de tempo, imagino-o como uma planta, uma planta que ali está, que quase sorri.
Hoje, num dia igual aos outros, mas à sua maneira diferente pensei. Antes de mim, já este ciclista subia diariamente esta ladeira inclinada. Talvez para ele, eu seja também uma planta que apenas existe ali e que quase sorri. Mas eu, ao contrário dele, cheguei com a primavera e o verão me há-de ver partir. Serei eu uma erva daninha?

5.05.2011



Mi amigo Carlos Bonavita siempre me decía:
"Si es verdad que al andar se hace el camino, vos tendrías que ser Ministro de Obras Públicas".

(...)

A mis pies les gusta caminar al orilla desta costa (...) mientras voy, las palabras caminan dentro de mi y van formando histórias.
En mis análises de sangre siempre aparecen más palabras que glóbulos y el médico me dice preocupado:
—El colesterol está dentro de los límites, pero las palabras...

(...)

La Utopía está en el horizonte. Por mucho que yo camine, jamás la alcanzaré. Camino diez pasos y ella se aleja diez pasos. Camino veinte pasos y ella se ubica veinte pasos más allá. Por mucho que yo caminé, nunca la alcanzaré.
Para que sirve entonces la Utopía?
Para eso, para caminar.


Eduardo Galeano

3.30.2011

Sempre chegamos ao sítio aonde nos esperam


"São, isso sim, o humilde reconhecimento de quanta verdade há na conhecida frase, Faltam-me as palavra. Efectivamente faltam-me as palavras. Diz-se que numa das línguas faladas pelos indígenas da américa do sul, talvez na amazónia, existem mais de vinte expressões, umas vinte e sete, creio recordar, para designar a cor verde. Comparando com a pobreza do nosso vocabulário quanto a esta matéria, parecerá que devia ser fácil para eles descrever as flores em que vivem, no meio de todos aqueles verdes minuciosos e diferenciados, apenas separados por subtis e quase inapreensíveis matizes. Não sabemos se alguma vez o tentaram e se ficaram satisfeitos com o resultado. O que, sim, sabemos, é que um monocromatismo qualquer, por exemplo, para não ir mais longe, o aparente branco absoluto das montanhas, também não decide a questão, talvez porque haja mais de vinte matizes de branco que o olho não pode perceber, mas cuja essência pressente. A verdade, se quisermos aceitá-la em toda a sua crueza, é que, simplesmente, não é possível descrever uma paisagem com palavras. Ou melhor, será possível, é, mas não vale a pena. Pergunto se vale a pena escrever a palavra montanha se não sabemos que nome se daria a montanha a si mesma. Já a pintura é outra coisa, é muito capaz de criar sobre a paleta vinte e sete tons de verde seus que escaparam à natureza, e alguns mais que não o parecem, e a isso, como compete, chamamos arte. Às árvores pintadas não caem as folhas."

José Saramago - Viagem do Elefante

3.27.2011


Such is the way of the world
You can never know
Just where to put all your faith
And how will it grow

Gonna rise up
Burning back holes in dark memories
Gonna rise up
Turning mistakes into gold

Such is the passage of time
Too fast to fold
And suddenly swallowed by signs
Low and behold

Gonna rise up
Find my direction magnetically
Gonna rise up
Throw down my ace in the hole


Eddie Vedder - Rise

2.14.2011

"Un libro más es un libro menos;
un acercar-se al último que espera en el ápice
ya perfecto."

Julio Cortazar - La otra orilla

1.18.2011

"O caos é uma ordem por decifrar"

José Saramago

1.01.2011


"Sou uma espécie de carta de jogar, de naipe antigo e incógnito, restando única do baralho perdido."

Fernando Pessoa - Livro do desassossego